Lilly Farias
Eu passava minhas noites a vagar do cárcere dos meus ciúmes ao maravilhoso mundo das histórias alheias. Filmes, livros, pequenas histórias escritas, episódios narrados pelos amigos e até invenções da minha própria cabeça. Como viver a vida dos outros é bom! Como diria Machado de Assis, "também se goza por influição dos lábios que narram."
Eu vivi! Ah, como vivi! Passeei por terras distantes: da vida árida nos secos desertos, aos montes gelados da solidão. Fui monge, cavaleiro, soldado, donzela, rei, bobo da corte, carrasco, mendigo e palhaço. Fui cega e pude ver muito mais longe.
Nada melhor que ser milhões de pessoas nessas noites quentes de eterno verão.
Lilly Farias
Hoje eu descobri muita coisa que eu sempre soube. Essa é a grande distância entre o conhecimento e a sabedoria: um é teoria, o outro é prática.
A minha felicidade é sempre tão real no mundo que eu inventei... Afinal, "cada um de nós é um universo", não é mesmo, Raul? E na minha realidade tudo é tão perfeito que qualquer sopro é um vendaval. E eu crio, invento, descubro e redescubro verdades que são só minhas. Eu me tranco no quarto, faço planos impossíveis, brinco de jogo da verdade com a lua, faço desenhos coloridos no céu, me faço, me desfaço e invento histórias pra eu dormir.
E eu penso no mundo lá fora. Eu penso, penso, e por pensar, mais vontade eu tenho de voltar pros outros universos que são só meus.
Eu sei que existe uma flor branca que permaneceu intacta no meio de prédios em chamas. Um incêndio sob a chuva calma e suave de uma noite de dezembro.
E, aqui dentro, todas as minhas composições são imagens que se fundem e se misturam, formando um emaranhado geométrico de formas e cores. É assim que eu vejo. É assim que eu invento.
Lilly Farias
Vamos dar uma pausa: 15 minutos pra ser feliz e depois a gente continua.
Lilly Farias
Digo adeus pela segunda vez. Longos anos de distância e breves instantes de felicidade.
Foram usadas algumas desculpas para não viver e há covardia demais para tentar, enquanto lá fora continua chovendo. Conseguimos provar que o tempo não muda muito a natureza das coisas.
Fiz um poema visual. Várias partes do teu rosto, sempre tão fragmentadas. Fragmentadas como esses anos, fragmentadas como o teu silêncio e como as lembranças que eu guardo dos teus olhos, do timbre da tua voz e dos teus cabelos que têm a cor do sol da manhã de maio.
Eu não lembro quando você chegou, parece ter estado sempre presente em algum lugar discreto da minha história. E agora surgiu iluminando e tomando todo o espaço das imagens cotidianas. Uma luz que deixa todo o resto da paisagem desfocada.
Agora que você foi embora mais uma vez, a janela está aberta e o vento deixa o ar com cheiro de lírios do campo. Eu deixo os sentimentos antigos guardados e espero pela sua volta daqui a mais alguns anos.
Lilly Farias
O tempo presente e o espaço de "estar" é uma prisão. Estamos presos no momento presente. Enclausurados na percepção dos cinco sentidos, estáticos em uma realidade iludida.
A capacidade de transcender a realidade humana é mínima. Somos extremamente limitados.