Lilly Farias


   Vento, eu estou em silêncio. Quero que o meu silêncio seja uma prece. O mundo é tão grande e o meu coração é tão desesperado... ele sente muita vontade de fugir. Fugir pra bem longe daqui, para onde o passado seja uma remota lembrança sem nostalgia. Algum lugar onde eu consiga enganar o meu Mapa Astral, onde a minha vontade seja soberana e a minha mente possa voar livre sobre as árvores, sobre o azul do mar e sobre o tempo.
   Vento, por aqui a vida não faz sentido. Nesse lugar eu me perdi de mim, eu esqueci a minha ideologia, as minhas crenças, a minha razão e a minha poesia. Nesse lugar eu afastei de mim tudo que fazia o meu coração bater e agora ele está em silêncio, como eu.
   É por isso que eu quero ir embora. As ruas desse pequeno lugar são o retrato do meu passado que eu tento desesperadamente esquecer. E eu... Ah! eu queria tranformar o amor em ruína. E eu queria abandoná-lo esta noite.
   Não levo bússola, não levo mapas e nem fotografias. Todas essas coisas nos tornam ainda mais perdidos. Mas eu levo o meu triste coração como guia e eu te seguirei para onde for, vento. Para além de todas as coisas irá comigo o meu silêncio.
  
Lilly Farias


Foram dias frios e eu estava longe de casa. Aquela cidade era cinza, nublada e chuvosa. Aquela cidade era um poema desconhecido, cheio de encanto.
Quando eu lembro daqueles dias, eu lembro da tua mão. Andamos de mãos dadas por becos, ruas, lojas antigas... e parávamos pra tomar café, conversar sobre o tempo, sobre a vida e sobre o futuro.
Me apaixonei pela cidade mais do que por você. Essa é a triste verdade. Aprendi a amar o cinza, o chuvoso e, sobretudo, o café.
Lilly Farias
Aqui estou eu, na beira do pantanal. Acordo e vejo uma serra coberta por árvores retorcidas. Retorcido destino! Eu sou o cerrado.
Sem rumo, vou caminhando pelas estradas de pó. A estrada poeirenta da minha jornada me envelheceu.
Vina, grande poeta, sinto sua falta!