Lilly Farias
Eu tenho suportado dolorosamente o peso da falta do seu sorriso. Eu tenho andado por ruas que não fazem sentido.
A casa é minha. O poema é meu. Eu fugi de casa. Eu me exilei, me afastei da felicidade.
A minha complexidade me torna incompreensível para mim mesma, tão absorta nos meus números, nas minhas letras, nas minhas imagens, nas minhas fotografias e nas minhas ilusões. No meu eu lírico sem pátria, tão patriota que é.
E eu não pretendo que alguém entenda a bagunça silenciosa dos meus gritos de desespero. Eu não espero que alguém entenda o que pra mim não faz sentido.
Lilly Farias
A melodia vem de longe. É como um canto fúnebre tocado em violinos e, ao meu lado, o cheiro dos lírios que foram trazidos pelas ondas do mar. Provavelmente jogado por alguma das benzedeiras negras, velhas e gordas, que os oferecem a Yemanjá.
Do outro lado da praia um jovem casal de namorados aqui encontravam leito para os seus amores, sob a terna lua do cais.
Eu, que já não sentia mais nada, vagava pela areia quente da praia nessas noites tão silentes. Eu, a lua e o vazio que reina em mim.
Lilly Farias
Quando eu o vi pela primeira vez, achei que ele se parecia com o ator que interpretava o Cazuza em um filme. E ele era inteligente e extremamente instigante.
E ele veio... a gente se perdia, se encontrava e se distanciava outra vez.
Quando eu estava perto dele, por vezes me cansava... e quando estava longe sentia falta de mim mesma.
Em dias frios e de um cinza triste, nós nos sentávamos na nossa antiga escadaria distante do resto do mundo, de frente para as melancólicas árvores mortas, bebíamos o nosso vinho barato e falávamos sobre a falta de sentido das palavras. Com ele, eu me sentia perto de um universo que agora me falta. Me falta uma parte de mim, uma parte que se perdeu.
Agora eu volto ao nosso sombrio lugar deserto. Eu me sento sem ninguém. É aqui que eu sinto a dor intragável da saudade, que nem o vinho e nem os milhares de cigarros conseguem acalmar. Nenhuma filosofia e nem todas as filosofias juntas serão capazes de substituir a falta de um filósofo.
Lilly Farias
Toda vez que você virava as costas, um pedaço de mim morria. Entre as minhas lágrimas eu aprendia o gosto amargo do degredo. Todas as coisas ao redor sumiam e o universo era um vazio cinzento e uma dor pungente.
Quando você partia, ia contigo a felicidade e o gosto das tardes de verão. Ia junto um pedaço de mim e a poeira ia se acumulando por todos os cantos da casa.
Eu conhecia a vida do teu lado e nunca mais ia saber viver sem ela. Eu conhecia a sua respiração quando você dormia e eu sabia reconhecer o som vibrante do seu sorriso. Mas agora tudo ia embora. Ia contigo as minhas crenças, a minha pátria, a vontade de viver e a cor cintilante dos fins de tarde. E eu ficava sem saber pra onde olhar, onde pôr as mãos e eu não sabia respirar.
E foi por amor que eu aprendi a ver você ir embora e me manter inteira, mesmo já sem muitos pedaços. Foi por faltar pedaços que eu quis de você mais do que alguém poderia ter para dar. Foi por faltar pedaços um dia que hoje sou um mosaico de obras de arte que usei para preencher os espaços vazios.
De cada lágrima que ficava na estação eu fiz uma fonte de onde brotavam sonhos. E os sonhos me fazem compania nesse exílio em que em vivo toda vez que você se vai.