Lilly Farias
Eu procuro poesias perdidas no teu rosto, nos seus olhos brilhando e nas tuas mãos que tremem. Eu procuro encontrar o poema que ficou perdido no escuro do pátio quando eu te deixei sozinho.
Eu procuro encontrar o sentido do amor que é real, mas que não necessita de concretude. E eu te procuro em cidades perdidas da minha memória, eu vejo você vagando pelos labirintos que eu criei.
O poema é indecifrável nos teus lábios que eu não consigo parar de olhar e é indizível no teu corpo perto do meu. O poema é infinito... É infinito como a certeza de te ter mais perto a cada instante e de ser sua até o último deles. É infinito como a calma de caminhar de noite sob da chuva, nas ruas de uma antiga civilização, embaixo de um guarda-chuva quebrado. É infinito como todos os poemas precisam ser.
Lilly Farias
No escuro do quarto ouço músicas que machucam. Tenho um cigarro, um pensamento e o vento que balança minha cortina.
Eu penso em ir embora, eu penso em ficar, eu penso em me casar e penso em me matar.
E nada é tão cinza quanto essas noites de vento frio.
Houve um tempo em que passeávamos pelas ruas geladas de uma cidade pequena. Era frio, mas nos amávamos e estávamos a muitos quilômetros de casa. Longe das falsas crenças, longe da segurança, longe das máscaras bonitas. Hoje estou apenas longe de você, mas sou imensamente feliz assim. Não é a mesma felicidade que me fazia sorrir igual a uma criança e segurar a barra do vestido pra correr na chuva. É uma felicidade solitária e imensamente real. É a felicidade de se saber longe da felicidade e perceber que não sente falta dela.
Lilly Farias
O rio corria sereno por baixo da ponte de madeira. Sentada nas pedras, eu me lavava na água. Lavava o meu corpo e minha alma. Uma voz me disse:  "Yemanjá, sua Mãe, lhe chama pra morar com ela no mar". Eu disse: "Eu vou, minha Mãe. Não tardo." E as águas, que também corriam pro mar, foram levando meu recado.