Medo de amar.
Medo de trovões.
Medo de falar em público.
Medo de decepções.
Medo da solidão.
Medo da Vida.
Cultura do medo.
O medo é um sentimento de alerta diante de ameaças físicas ou psicológicas. A ilustre senhora que acompanha o medo é a ansiedade, um sentimento que precede o encontro com a situação ou o objeto do medo.
Anos atrás, quando chovia e os trovões inundavam a casa com o seu som estridente, uma menina de olhos arregalados corria para a cama dos pais. Apenas aquele pequeno canto do planeta era seguro, e o resto do mundo era inóspito e sombrio.
Agora, diante de tempestades de expectativas, dúvidas e anseios, para essa mesma menina, que possui os mesmos olhos e o mesmo sentimento, não há lugares seguros.
A sociedade espera, cobra e impõe. Nasce o medo da não adequação aos padrões, medo do fracasso, medo de não ter.
Se, por ventura, a menina não se sentir feliz dentro dos moldes estabelecidos, germinará o medo da loucura e da solidão.
O filósofo Ralph Waldo Emerson dizia: " Faça aquilo que você receia e a morte do medo será certa".
Então, querida menina, por favor: quebre as regras, prefira "ser" ao invés de "ter" e deixe o pensamento se libertar! Você vai descobrir que a loucura e a solidão podem ser opções agradáveis.
Considerações à uma menina-flor.
Há percepções que definitivamente não podem ser traduzidas no âmbito da linguagem convencional. Desvendar o que convulsiona os fundamentos de uma alma, aquilo que a faz mover-se ou recolher-se feito um animalzinho assustado... Quando muito, devemos silenciar, permitindo que as entrelinhas desse quadro ímpar expressem aquilo que não se pode desenhar sem que a sacralidade do momento seja violada. Diga-me,Anima,Afinal,como me seria possível definir ou pelo menos chegar mais perto desse "eu" que não está restrito a qualidades, funções e demais tipos psicológicos? Quem está por trás desse desenho, tão eivado de um tipo de emoção que parece querer estar em tudo, ser tudo, mergulhar no Si-mesmo? Excertos de uma alma que sabe para onde não deseja ir... Como posso me tornar alguma coisa imaterial, como confudir-me com os seus olhos, para, assim,imergir nos recessos mais profundos? Quem está aí?Decifrá-la é tarefa de uma vida... vejamos até onde posso enxergar, sem que as demandas do espaço-tempo me ofusquem a leitura...Fada,sacerdotisa, autora,apaixonada pelas expressões múltiplas da natureza, publicitária,leitora compulsiva, escorpiana,elfa verdinha, bichinho que mora ao lado do regato,poeta,filha,irmã,neta,sobrinha, prima,amiga,crítica implacável de si mesma,apaixonada pelo inefável,amiga de um "outsider" que vive à distância... Tipos psicológicos que se justapõem, configurando um amálgama de representações que quase traduzem uma vida,um amplo e profundo campo de girassóis... Bem ali, se posso chegar um pouco mais perto,vejo páginas de um livro que definitivamente não está acabado... Acontece que o protagonista, uma flor astral, antevendo a amplitude dos horizontes à frente, que a esperam serena e sedutoramente, permite que certo fator autolimitante [excesso de bom-senso, sensatez, temeridade, amor próprio...Vai se saber!] faça ninho em seu coraçãozinho. Ora, orgulhosa, inteligente, bravinha, percebendo que não haverá retorno, se e quando permitir-se ultrapassar aquilo que lhe fora imposto por outrem, compreende que todos os entraves dissolver-se-ão...
Conforme nos parece bem nítido, essa flor parece tentar em vão esconder-se daquilo que fora traçado por sua própria alma... Medo do quê, de quem? Seria uma espècie de medo de não sentir medo, visto que isso lhe faria voar ainda mais alto? Então, querida menina-flor,nada é preciso fazer, é suficiente se deixar fluir na Corrente do Tao... Esse tal de medo é o exato oposto daquilo que se convencionou chamar de amor. Ame o amor, por ele mesmo. Ame aquela flor, cuja arquitetura você ainda está por delinear. Que tal dissecarmos esses medos?! Vamos lá... Medo da solidão?! Quem, você, flor?!Como você estará eventualmente sozinha, se a sua companhia é tão benéfica para tantos?! Você, nós outros, somos construções coletivas [até mesmo o inconsciente tem estrutura coletiva!], a solidão não pode bater à sua porta... olhe com cuidado à sua volta... alguém que identifica-se tanto com a natureza, não será jamais por ela abandonado(a)! Medo de amar?! E quanto aqueles que amam amar você?!Há muito amor no seu entorno, menina-flor! Medo dos trovões?! A física básica resolve... Quando chegam os trovões, os raios já subiram aos céus[sim, eles sobem, na verdade!], portanto, não há perigo algum! Medo de falar em público?!Sociedade, público, multidão, humanidade, etc., não são coisas reais [as palavras e as coisas não são a mesma coisa]... são abstrações. O que há são pessoas, exatamente que nem você, menina-flor! Medo de decepções?! Bom, de qualquer forma, as pessoas criam expectativas [falsas, projeções artificiais...] em relação a nós outros... Acabam reagindo de forma esquisita, diante de nosso arbítrio legítimo... Temos que dizer-lhes um sonoro não!Gente decepciona gente!Nada de novo debaixo do céu, menina-flor!Medo da vida?! A vida é movimento... visto ser movimento, dinâmica, nunca permanece exatamente a mesma! Por que temer o que é volátil, impermanente?! A vida é a expressão de uma Ordem Implicada... essa é imutável,porém, os roteiros que seguimos "acima" [Ordem Explicada] são transitórios, menina-flor!Algum dia tudo isso estará lá no sótão de sua consciência... Serão lembranças! A propósito, do que estávamos falando mesmo?! Ah, de um jardim imenso, repleto de flores, cujos corações movem-se por um querer que nem é assim tão pessoal, porém, convenhamos, lá no que há de essencial, somos todos os mesmos... Desejamos amar e ser amados...
Dê-me a sua mão...
Resposta ao Tempo
Nana Caymmi
Composição: Aldir Blanc/Cristovão Bastos
Batidas na porta da frente
É o tempo
Eu bebo um pouquinho
Pra ter argumento
Mas fico sem jeito
Calado, ele ri
Ele zomba
Do quanto eu chorei
Porque sabe passar
E eu não sei
Num dia azul de verão
Sinto o vento
Há folhas no meu coração
É o tempo
Recordo um amor que perdi
Ele ri
Diz que somos iguais
Se eu notei
Pois não sabe ficar
E eu também não sei
E gira em volta de mim
Sussurra que apaga os caminhos
Que amores terminam no escuro
Sozinhos
Respondo que ele aprisiona
Eu liberto
Que ele adormece as paixões
Eu desperto
E o tempo se rói
Com inveja de mim
Me vigia querendo aprender
Como eu morro de amor
Prá tentar reviver
No fundo é uma eterna criança
Que não soube amadurecer
Eu posso, ele não vai poder
Me esquecer
Amor de Índio
Beto Guedes
Composição: Beto Guedes/Ronaldo Bastos
Tudo que move é sagrado
E remove as montanhas
Com todo o cuidado
Meu amor
Enquanto a chama arder
Todo dia te ver passar
Tudo viver a teu lado
Com arco da promessa
Do azul pintado
Pra durar
Abelha fazendo o mel
Vale o tempo que não voou
A estrela caiu do céu
O pedido que se pensou
O destino que se cumpriu
De sentir seu calor
E ser todo
Todo dia é de viver
Para ser o que for
E ser tudo
Sim, todo amor é sagrado
E o fruto do trabalho
É mais que sagrado
Meu amor
A massa que faz o pão
Vale a luz do teu suor
Lembra que o sono é sagrado
E alimenta de horizontes
O tempo acordado de viver
No inverno te proteger
No verão sair pra pescar
No outono te conhecer
Primavera poder gostar
No estio me derreter
Pra na chuva dançar e andar junto
O destino que se cumpriu
De sentir seu calor e ser tudo
Sim, todo amor é sagrado