Tia
Lilly Farias
"-Tia, você pode tirar uma foto nossa?"
Para. Para tudo! Tia?

Eu saio da última prova da faculdade no semestre com uns 100 kilos a menos nas costas. A chuva está mais fraca que no começo da manhã e fico ouvindo a rádio pelo celular. É o Bob Marley com "Is this love", e é a nostalgia que começa. Repito: está apenas começando.
No ponto de ônibus encontro alguém que ainda me causa muito encômodo. Da última vez que nos falamos, pode-se dizer que ainda éramos crianças. E eram bons tempos aqueles. Mas o tempo que vai passando deixa os antigos sentimentos com uma superfície estranha. Nos dias de hoje, de certa forma, essa menina que me encomoda faz falta. Mas não somos as mesmas que a alguns anos atras.
No caminho do trabalho vejo uma enorme bandeira vermelha e muita gente na frente da prefeitura. É, isso mesmo: eu não resisti. Desci do ônibus e entrei no meio daquela gente toda.
Eles estavam protestando pelo preço da passagem de ônibus que aumentou. As músicas eram as mesmas de cinco anos atrás, os mesmos gritos, os mesmos hinos. Só aqueles rostinhos de estudantes tinham mudado. Poucos permaneceram, só os "apaixonados" pela luta.
E no meio de tudo, curtindo a minha nostagia, eu ouço: "-Tia, você pode tirar uma foto nossa?"
...
Prazer! Sou eu a tia. E é claro que posso tirar uma foto dos meus sobrinhos. Ainda soltei uma frase um pouco mais aterradora: "Esse tipo de foto vai ser preciosa pra vocês daqui a alguns anos".
Encontrei alguns amigos antigos. Fui almoçar com o V8. Não o via a muito tempo. E foi só nostalgia. Recordações dos tempos em que tudo era ideologia.
Nos despedimos. Ele foi pro banco, eu vim pro mercado da soja. E o tempo ainda está passando...
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